sexta-feira, 1 de setembro de 2017

“Somos maravilhosas, mas quando precisar pegamos o fuzil”, diz delegada do RN

A deputada estadual Márcia Maia (PSDB) promoveu nesta quinta-feira (31), Sessão Solene para lembrar a conquista da criação da Delegacia da Mulher no Rio Grande do Norte. Durante a sessão, que contou com a presença dos deputados Hermano Morais (PMDB), Carlos Augusto Maia (PSD) e Larissa Rosado (PSB), a parlamentar homenageou delegadas e ex-delegadas que fazem parte da luta para combater a violência contra as mulheres.

“Maria – morta a pedradas. Josefa, assassinada pelo marido, na frente dos três filhos. Leidiane, Fabiana, Elidiane, Ana e Roberta, todas, tiveram a vida tomada a golpes de faca. Antônia, Andreza, Naiara, Francycris, Mykaella, vítimas de tiros. Todas mulheres. Todas assassinadas no Rio Grande do Norte por pessoas que diziam amá-las. Todas mortas pelo machismo, pelo sentimento de posse, pela crença de que a vida da mulher não pertence a ela. Em nome delas e todas as demais mulheres assassinadas em nosso estado, estamos reunidas hoje”, discursou a deputada Márcia Maia ao abrir a sessão que foi marcada por depoimentos emocionantes e emocionados.

“Estamos aqui também para reconhecer o quanto avançamos e o quanto ainda precisamos avançar, mas também para exaltar a coragem, o trabalho e, sem dúvida, denunciar os obstáculos que tem sido impostos às Delegacias Especializada de Atendimento à Mulher no Rio Grande do Norte na luta pela preservação da vida de mulheres”, justificou Márcia.

De acordo com a parlamentar, em pouco mais de 30 anos das DEAMs no estado, há apenas cinco unidades para atender os 167 municípios e o efetivo policial continua abaixo do necessário. Para Márcia, esse é o principal problema da Polícia Civil do Rio Grande do Norte.

Na sessão que contou com a presença das Secretárias de Políticas para as Mulheres do Governo, Flávia Lisboa, e da Prefeitura de Natal, Andréia Alves, foram homenageadas Igara Maria Pinheiro da Rocha, Ana Paula Pinheiro de Vasconcelos Ferreira de Melo, Ana Alexandrina Gadelha Gonçalves, Luana Pessoa Aby Faraj Lima, Renata Costa Rodrigues, Cristiane Magalhães Ribeiro, Ana Cláudia Saraiva Gomes, Rossana Roberta Pinheiro de Souza, Paoulla Benevides Maues de Castro, e Margareth de Brito Gondim.

Falando em nome das homenageadas, a delegada aposentada Margareth Gondim contou histórias que viveu como titular da Delegacia da Mulher quando foi criada pela então prefeita de Natal, Wilma de Faria. Ela lembrou de casos como o de uma mulher flagrada em cárcere privado pelo marido, que foi libertada pela servidora, que invadiu a casa e colocou a “porta adentro”. “A senhora é muito atrevida”, disse o marido violento no dia seguinte ao abordar a delegada, mostrando as dificuldades de tratar do assunto na época. “Isso aconteceu ao longo de 14 anos, mas a violência não mudou”, afirmou a delegada, referindo-se ao tempo em que passou à frente da DEAM.

Emocionada, a delegada ressaltou a iniciativa da então prefeita Wilma de Faria, responsável por criar a Delegacia da Mulher em Natal. “Não posso deixar de falar no nome de nossa ‘rainha guerreira’. Não fosse ela e o amor à causa, nada disso teria acontecido”, disse a delegada que encerrou o discurso chorando.

Presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Norte (Adepol), Paoulla Benevides Maues de Castro também fez discurso na solenidade. “Não é fácil ser polícia no país, avalie aqui no Rio Grande do Norte onde temos passado por muitas dificuldades”, disse a presidente, que convidou a delegada Margareth Gondim para entregar flores à delegada Ana Cláudia Saraiva Gomes.

“A polícia hoje veio à Assembleia Legislativa chorar”, agradeceu a policial, ressaltando que a emoção não revela fraqueza das mulheres. “Nós somos lindas e maravilhosas, mas quando precisar pegamos o fuzil e a metralhadora”, encerrou Ana Cláudia, torcendo para que daqui a 30 anos os números e a realidade sejam outros, referindo-se à violência contra as mulheres.


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